Como sumo de limão, amargas-me a vida que julgava doce. Prendes-me à terra quando Deus deu-me asas e largou-me no céu. Tornas-me em areia que enche praias e em de nada é especial; um mineral vítreo, um espelho de obsidiana que nada mostra, sem ser uma imagem negra, como o meu coração como quando me deixaste.
E talvez por isso procuro nas palavras alento, vida e uma corda que me puxe da mina da tortura em direcção ao solo húmido do paraíso, regado com flores e erva fresca, e plantas que animam a aparência.
Agora, sem ti, sou um jardim com crianças, sou um girassol num dia de fins de Julho. O sumo de limão tem açúcar, as tuas amarras não me seguram, a areia ficou vidro, porcelana talvez – sou exposta numa prateleira e apreciada, não desprezada e abandonada como antes me sentia na tua praia de traições e facadas.
Talvez por isso sinta-me melhor, com peito mais cheio, com altura elevada, com posição superior. Talvez por isso seja capaz de dizer-te “adeus” e acreditar nisso. Talvez seja mesmo capaz de tal. Talvez assim o faça. Adeus.
Elizabete Reis (04-10-2014)